Investigação avalia se ocorrência, em que empresário da Região Central é investigado, tem relação com esquema desarticulado em Porto Alegre
Depois de cumprir no início desta quinta-feira (1º) mandados de busca contra um grupo que simularia roubo de carros de luxo para fraudar seguros, a Polícia Civil faz nova ação durante a manhã contra outro suspeito de aplicar o mesmo golpe.
Trata-se de um empresário que teria mentido ao fazer ocorrência sobre o suposto roubo de um Porsche, avaliado em quase R$ 300 mil, no mês de junho em Porto Alegre.
A investigação descobriu que, ao contrário da outra quadrilha, que tinha base na Capital e foi alvo de ação por volta de 7h, o suspeito neste novo caso é de Júlio de Castilhos, na Região Central, e teria usado um Centro de Desmanche de Veículos (CDV) credenciado pelo Detran para desmontar o automóvel com o objetivo de lucrar com a revenda de peças.
O estabelecimento fica em Sapiranga, no Vale do Sinos. Os dois mandados de busca foram cumpridos nestas duas cidades. Não houve prisões.
A ação é sequência da operação realizada mais cedo porque envolve praticamente o mesmo tipo de delito. Nos casos da Região Metropolitana, no entanto, os veículos eram clonados e enviados para São Paulo.
No esquema que envolve Júlio de Castilhos e Sapiranga, eram desmanchados. A ação foi realizada pela Delegacia de Roubo de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) e a Corregedoria-Geral do Detran.
Cercamento eletrônico auxilia
O delegado Rafael Liedtke, responsável pelo caso, diz que o cercamento eletrônico em Porto Alegre foi fundamental para comprovar que houve falsa comunicação de crime.
Segundo ele, depois que o suspeito registrou boletim de ocorrência informando ter sido assaltado por três homens armados na Rua Quintino Bocaiúva, na Capital, imagens do sistema foram analisadas.
— Verificamos não só no horário em que o suspeito mentiu ter sido assaltado, mas durante o dia inteiro, já que ele disse ter chegado em Porto Alegre naquele dia. Mas nada.
Não ingressou na cidade com o Porsche. Ele ainda disse que teve um relógio Rolex de R$ 200 mil roubado pelos mesmos assaltantes, mas nada foi comprovado de que este delito também ocorreu — revela Liedtke.
O delegado também obteve imagens de dois estabelecimentos comerciais a que o investigado disse ter ido antes do roubo no mês de junho deste ano.
Mas em nenhum momento as câmeras flagraram o empresário dentro dos locais ou o Porsche estacionado nos arredores dos imóveis mencionados.
Rastreador desligado no CDV
Além disso, Liedtke comprovou que, três dias antes do falso roubo em Porto Alegre, o rastreador veicular do automóvel — por GPS — foi desligado em um endereço no Vale do Sinos — dentro do CDV em Sapiranga. Com isso, a polícia obteve da Justiça dois mandados de busca e acionou o Detran.
O objetivo das buscas nesta quinta-feira é encontrar mais provas e verificar como funcionava a fraude, se tem ligação com o esquema de Porto Alegre — já que no caso em que o CDV foi usado o suspeito é de Júlio de Castilhos e laranjas utilizados na outra fraude também são da cidade na Região Central. Além disso, Liedtke pretende saber se o responsável pelo CDV recebeu comissão pelo desmanche do Porsche.
Os nomes dos suspeitos não foram divulgados. Os crimes apontados são estelionato, associação criminosa, clonagem, receptação e falsa comunicação de roubo. Sobre este último tipo de delito, o delegado ressalta que foram 60 fatos semelhantes, somente na Capital, de 2020 até agora. Liedtke diz que fatos como este geram trabalho e desperdício de tempo e dinheiro na apuração de um crime inexistente.
O diretor do Deic, delegado Sander Cajal, diz ainda que esta fraude prejudica o trabalho de estatística da Secretaria de Segurança Pública (SSP), ao elevar os índices criminais com dados falsos.
— Essa vantagem indevida não influencia só em dados, mas no valor do seguro dos veículos, porque contabiliza como furto e roubo e impacta para todos. Todos acabam pagando de forma reflexa essa vantagem indevida de estelionatários — explica.
Durante as duas ações realizadas nesta quinta-feira, a Delegacia de Roubo de Veículos prendeu seis pessoas. Uma delas foi um despachante que participava do esquema em Porto Alegre que fraudava seguros e as outras quatro são ladrões de carro que agiam — em separado — com violência na Região Metropolitana. Eles não estariam ligados à fraude contra as seguradoras e também não tiveram os nomes divulgados.
A Corregedoria-Geral do Detran instaurou procedimento interno para apurar administrativamente o caso e descredenciou o CDV. A reportagem tentou contato com o departamento e aguarda retorno.
Fonte: GZH I F. Pixabay