Se a pandemia do coronavírus provocou uma aceleração da digitalização da sociedade mundialmente, o setor de seguros foi um dos mais impactados pelos novos processos e costumes tecnológicos.
Aqui no Brasil, o chamado “linguajar securitário”, bastante hermético e restrito aos players da indústria dos seguros, viu-se obrigado a dar passagem a uma forma mais coloquial e digitalmente fluida de se comunicar.
E, se as insurtechs já nascem absolutamente contemporâneas e inseridas num possível futuro dentro do Metaverso, as gigantes do setor estão tendo que “correr atrás”, uma expressão tão antiga quanto verdadeira na necessidade de se reinventar digitalmente para os novos tempos.
“A transformação digital é um processo necessário, e que está redesenhando a indústria de seguros nos últimos anos. É sabido que nossa área anda pelo menos uns cinco a sete anos atrás do setor financeiro.
Mas, com a digitalização que as empresas foram forçadas (a fazer) pela pandemia, isso se tornou uma agenda estratégica e urgente dentro das seguradoras”, afirma Alex Körner, cofundador e CEO da 180° Seguros, insurtech especializada em inovação na distribuição de seguros e assistências.
“A modernização é inevitável! As seguradoras têm uma agenda pesada de investimento em tecnologia, principalmente pelas novas obrigações regulatórias do setor. Minha dúvida é se terão espaço em sua agenda para investir nos novos produtos que podem surgir por essa demanda que estamos vendo dentro do modelo digital que o Brasil se encontra atualmente”, destaca Körner.
E não apenas aqui, mas na União Europeia (UE) a indústria do seguro vive a mesma situação, como atesta o presidente da espanhola Associação Profissional de Mediadores de Seguros (APROMES), Javier García-Bernal Cuesta: “É fato que as seguradoras na UE estão fazendo fortes investimentos em tecnologia. Aliás, depois das empresas de telefonia, é o setor com mais recursos investidos há mais de 15 anos. E, há cerca de três, cinco anos, as corretoras embarcaram no trem da transformação digital e, com esta força, o setor está com grande desempenho na digitalização, chegando a níveis que outros setores nem conseguem imaginar”.
Hoje, na Espanha, os principais investimentos em tecnologia de seguros são realizados no projeto EIAC (Estándar de Intercambio de Información entre Entidades Aseguradoras y Mediadores – Modelo de Intercâmbio de Informação entre Entidades Seguradoras e Mediadores), que vai permitir a troca de dados entre corretoras e seguradoras. “As principais empresas de software especializadas na distribuição de seguros estão no EIAC.
Isso vai permitir melhorar a gestão das carteiras e aperfeiçoar a assessoria perante o cliente nos distintos produtos”, ressalta García-Bernal. “E as seguradoras, para aperfeiçoar suas relações e negócios com os canais de distribuição, estão desenvolvendo ferramentas tecnológicas na vanguarda da digitalização”, complementa.
De volta ao Brasil, Alex Körner avalia que a atual segunda onda de insurtechs é bem diferente da primeira, ocorrida há uma década. “Por volta de 2010, as insurtechs vieram a reboque das fintechs, que se criaram pela agenda positiva de transformação do Banco Central na época.
Foram empreendedores corajosos que, infelizmente, não vimos avançar devido à estrutura de regulamentações. Vimos boas iniciativas que acabaram se tornando uma digitalização da burocracia existente”, conta o CIO da 180º Seguros, para concluir:
“Já a partir de 2019, vemos a segunda onda, com um regulador, a Susep, promovendo uma série de mudanças. Acredito que esse novo momento que estamos vivendo é totalmente diferente, pois tanto o regulador quanto as seguradoras e todos os envolvidos no setor estão buscando essa transformação, que vai ter novos entrantes, novos consumidores e, com certeza, novos produtos”.
Para Körner, as insurtechs vão apoiar as seguradoras e os players já consolidados com tecnologia, recursos humanos e novos processos, acelerando ainda mais a transformação do setor.
Na Europa, García-Bernal está de olho na legislação para o mercado de seguros, focada num projeto que deve ser levado em breve para análise no Parlamento e no Conselho Europeu. “Não podemos esquecer do futuro, que vai vir com a proposta de regulamento relativo a resiliência operacional digital do setor financeiro, o chamado ‘Projeto Dora’”, conclui o presidente da APROMES.
Com o objetivo de defender os interesses e promover a atividade profissional de mediação de seguros, a Associação Profissional dos Mediadores de Seguros (APROMES) foi criada em 16 de março de 2000. Precisamente às 19h40 de Madri, como descrito em seu site, foi fundada a organização profissional, “com espírito independente e respeitando a liberdade empresarial individual de cada um dos seus associados”. No mesmo ano, foi instituído o Prêmio APROMES, concedido anualmente “àquelas pessoas que esta associação considera merecedoras deste galardão”.
Dentro de sua estrutura, a APROMES conta com diversas comissões de trabalho, dentre elas, a de Tecnologia, criada há dez anos. “O nosso diretor de Tecnologia e Digitalização é quem preside a comissão, composta por quatro corretores com grande expertise em tecnologia”, explica o presidente da APROMES, Javier García-Bernal.
Além disso, o presidente destaca que há “uma ferramenta para utilização pelos seus associados, Apromestec, além de outras desenvolvidas com parceiros de primeira ordem a nível internacional”. “De forma colegiada e democrática, é uma ferramenta ótima para o coletivo, para validação, aprovação e contratação”, ressalta García-Bernal.
Em março do ano passado, a APROMES e o Clube Vida em Grupo do Rio de Janeiro (CVG-RJ) celebraram um acordo cultural e institucional de cooperação, para o intercâmbio de conhecimento, informação e cultura de seguros.
Esta matéria foi publicada na Revista Insurtalks.
Fonte: Revista Insurtalks I CQCS