Mulheres enfrentam preconceito para desempenhar certas profissões consideradas originariamente como masculinas

Compartilhar nas redes sociais

Mesmo que em pleno 2022, o mercado de trabalho ainda é um ambiente hostil à participação feminina. Muitos avanços já ocorreram, mas fato é que muito ainda precisa ser feito para que as mulheres tenham igualdade em relação aos homens.

A questão da maternidade é um dos pontos em que essa diferença fica ainda mais gritante. Muitas mulheres acabam abrindo mão de suas carreiras tradicionais para buscar oportunidades no empreendedorismo.

Segundo Pesquisa da Rede Mulher Empreendedora (RME), 55% das empresárias brasileiras abriram o negócio nos últimos 3 anos. Destas, 26% abriram o negócio atual durante a pandemia. A mesma pesquisa mostrou que entre as empreendedoras que possuem sociedade, sete em cada dez contam com sócias mulheres.

Além disso, 73% dos empreendimentos liderados por mulheres são majoritariamente femininos, enquanto apenas 21% dos empreendimentos são liderados por homens. Mesmo optando por abrir o seu próprio negócio elas ainda enfrentam dificuldades com o acesso ao crédito. Segundo a RME, 43% das participantes da pesquisa que solicitaram empréstimo, tiveram seus pedidos negados.

Uma mulher que decidiu abrir o próprio negócio foi Gabriela Koslowski. A gaúcha de 26 anos percebeu que a mecânica era a sua área de realização pessoal. Como seu avô havia fundado uma oficina mecânica há 52 anos, ela decidiu estudar administração e marketing para aprimorar o negócio da família.

Segundo Gabriela, ela não imaginou que trabalharia em uma mecânica, apesar do empreendimento ser parte da sua família. “Nunca imaginei ficar o resto da vida em uma oficina, mas foi quando comecei a ajudar na oficina que pertencia a minha família que eu vi que era realmente isso que eu queria fazer”, explicou Gabriela.

Questionada sobre como é trabalhar em um ramo majoritariamente masculino, disse que sofre muito preconceito. Segundo ela, antes a oficina se chamava Koslowski e quando mudou para Gabriela K muitas pessoas deixaram de ir. “Infelizmente o preconceito vem de todos os lugares, tanto da família, quanto de fornecedores, colaboradores e clientes.

Quando saiu a matéria sobre a mecânica na Zero Hora eu quase fui linchada. Era muita gente mandando eu ir lavar uma louça ou dizendo que isso não é coisa de mulher”, disse.

Gabriela ainda comentou que a aceitação dos homens ainda não é muito boa, mas a das mulheres sim. “Com as mulheres é bem mais legal, porque elas se sentem mais seguras em levar o seu carro em uma oficina que ela sabe que vai ser atendida por uma mulher”, completou. A empresária também tem planos de disponibilizar cursos técnicos para mulheres na oficina, o projeto é chamado de “Mais Mulheres na Mecânica”.

Outra mulher que decidiu atuar em um ramo majoritariamente composto por homens foi Aline Trindade. Ela atuou oito anos como jornalista, mas se tornou eletricista depois de perceber que era isso que realmente gostava de fazer. “Ser uma mulher nesse meio é sempre desafiador, mas quando eu comecei, sete anos atrás, era bem pior.

Agora a gente já vê uma quantidade maior de mulheres no mercado. (a participação) Ainda é pequena mas maior do que quando comecei”, disse Aline. Segundo ela, isso dá uma maior segurança e tranquilidade de perceber que isso está evoluindo. “Eu me orgulho de ser uma mulher nesse ramo”, comentou.

Aline ressaltou que a maioria dos seus clientes são mulheres. “No início eu atendia apenas mulheres, mas depois que eu fui evoluindo e entendendo como ter estratégias de checagem, de ver quem é o cliente, eu comecei a atender homens, mas a maioria continua sendo as mulheres”, afirmou. De acordo com a eletricista, a mulher tem que se esforçar muito mais para atuar em ramo onde a presença feminina não é tão comum, como no ramo em que atua. “Não é incomum as pessoas me perguntarem: onde tu estudou? Tu troca tomada? Se você fosse um eletricista homem ninguém perguntaria isso. Infelizmente fatos como este acontecem todos os dias”, lamentou.

Sobre a relação com os colegas de profissão, Aline disse que são sempre muito solícitos. “Eles sempre estão dispostos a ajudar, mas sempre acham que tu não sabe nada, entende? Quando eu tenho alguma dúvida eu pergunto para outras pessoas e tento resolver o problema do cliente, diferente dos homens que às vezes não pedem ajuda porque são orientados a sempre saber tudo, e mesmo quando não sabem eles dizem que estão sabendo”, disse.

Segundo ela, não percebe tantos desafios na profissão. “É difícil dizer sobre isso, não acho tão desafiador as questões que eu passo no dia a dia, porque o preconceito eu já acostumei, teve uma vez que um zelador de um prédio não deixou eu mexer no relógio por exemplo”, comentou.

Para Aline, o mais difícil é o trabalho que tem que realizar para resolver o problema do cliente. “A elétrica é um quebra cabeça, temos que ir investigando até achar a solução daquele problema. Eu tenho sorte em poder estar aqui fazendo isso e mostrando para todo mundo que a mulher pode sim”, concluiu a eletricista.

Fonte: Conex Comunicação